Pra começar o filme começa no clímax. Ou em um dos clímax. E a partir deste "desfecho", uma série de coisas começam a acontecer, mas não sem antes explicar como tudo foi dar naquele clímax. Entendeu? É complicado mesmo, mas é possível compreender tudo! De maneira simplista, a história pode ser contada da seguinte maneira: um grupo de ladrões [que não se conhecem, que fique bem claro] se reúne em torno do plano e um assalto a uma joalheria. Serviço simples, alguém de dentro vai facilitar, é só entrar, pegar as jóias, não dar nenhum tiro e pronto: faz-se a partilha e cada um vai para o seu lado, sem saber como um pode encontrar o outro depois do trabalho. Para garantir isso, ninguém no grupo tem nome. Tem codinome: Mr. Pink, Mr. Blue, Mr. White, Mr. Brown, Mr. Green, Mr. Orange e Mr. Blonde, cada um com uma característica marcante; Pink é falador, White é veterano, Blonde é extremamente sádico [a uma certa altura do filme, ele vai ao carro pegar um galão de gasolina para atear fogo em um policial refém].
Como percebemos logo no começo do filme, o plano é mal sucedido e uma situação insólita se estabelece entre os ladrões. Quem morreu? Quem ficou com as jóias? Como os policiais chegaram tão rápido à cena do crime depois do alarme? Alguém traiu o grupo? O clima de desconfiança e a tensão são insuportáveis, especialmente quando fatos anteriores ao assalto vão sendo apresentados e vamos começando a delinear a figura do agente da traição.
Como em todo filme de Tarantino, os diálogos são fantásticos, mesmo aqueles que não tem nada a ver com a trama principal. No início da trama, os ladrões discutem o sentido da letra de Like a Virgin - e formulam uma teoria bem interessante a partir disso. Pink também reclama de levar esse codinome, além de se recusar a dar gorjeta à garçonete que os serve à mesa; tudo dito num diálogo inacreditavelmente criativo e irreverente. Também como em todo filme de Tarantino, há violência e sangue. E sangue. E sangue. Um personagem passa o filme inteiro dentro de uma poça do seu próprio sangue, à beira da morte. Blonde arranca, a faca, a orelha de um policial. Brown leva um tiro da moça de quem queria roubar o carro [pra fugir do tiroteio]. E por aí vai. No trailer abaixo dá para se ter uma vaga idéia...
E muito antes do Sexto Sentido e o menininho que via gente morta, Tarantino já havia quebrado a linha narrativa de um roteiro, contando tudo de maneira não-linear, indo e voltando no tempo, na maior naturalidade, sem que isso se torne confuso. Genial. É um dos Grandes Tarantinos. Pena que quase ninguém lembre dele - como ninguém lembra de Jackie Brown, mas isso é assunto pra outro post.
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Este blogue apoiou a idéia da Hora do Planeta, organizada pelo WWF, e convenci todo mundo aqui em casa, que tínhamos que passar uma hora inteira da noite de sábado com as luzes desligadas. Convenci ainda duas vizinhas e uma de minhas tias. Quero deixar claro que esta não é minha única atitude por um planeta melhor, mas acho que vale à pena fazer com que certas coisas pareçam espetáculo: só assim tanta gente participa. =)
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Mais um selinho da nossa próxima Blogagem Coletiva - o filme da minha vida, que acontece nos dias 29 e 30 de abril.
Passa lá!