Um acontecimento, outrora visto como unificador de povos e culturas distantes, faz seu debut na categoria 'desagregador' neste ano de 2008: as Olimpíadas, que acontecem em Pequim no próximo semestre, virou o principal palco de protestos de simpatizantes da causa tibetana no mundo inteiro. A passagem da tocha olímpica, normalmente muito esperada pelas cidades escolhidas para isso, perderam completamente a graça - caso não apareça nenhum ativista pró-Tibet. E quandos eles (os ativistas) encontram a tocha, vale tudo para tentar apagá-la. É cada performance inacreditável... Aliás, os esforços em encontrar uma solução definitiva para apagar a tocha olímpica foram tema de um texto ótimo no Gravataí Merengue.
Piadas a parte, a situação entre Tibet e China é complicada. Em primeiro lugar, pela cara-de-pau do governo chinês, que insiste em afirmar que o Tibet "pertence" à China desde o século 13! (Qualquer estudante de ensino médio sabe que a área foi anexada à República Popular da China depois de uma invasão ordenada por Mao Tse Tung, lá pelos idos de 1950... se bem que há um conflito anterior, mas não se justifica). Em segundo lugar, pelo desespero que agora abate os tibetanos, reconhecidos mundialmente pela paciência e espírito zen que carregam - um benefício direto da religião oficial do local, o Budismo Tibetano.
O mundo costuma enxergar os seguidores do Dalai Lama como criaturas à prova de qualquer desespero: mas as coisas chegaram a um ponto desesperador. Tanto que monges budistas deixaram a habitual tranqüilidade de lado e se renderam aos protestos! O exercício não-habitual do desespero entre os monges budistas é muito perturbador. ( No YouTube tem um vídeo que dá uma idéia do ponto em que se chegou).
Os protestos se espalharam pelo globo, com manifestações cada vez mais violentas. A festejada passagem da tocha virou motivo de reuniões públicas contra os Jogos Olímpicos da China. San Francisco, Buenos Aires e Londres deram um apoio significativo (regado a muitos loucos manifestantes) ao Tibet e contra a China. Em Paris, conseguiram apagar a tocha! Cidades da Ásia, como a japonesa Nagano, já desistiram de receber a tocha e passaram a batata quente a quem interessar possa. Enquanto isso, na "sala de justiça", o governo chinês só sabe culpar o pobre Dalai Lama de comandar os protestos mundiais: estão tentando fazer de um santo o próprio diabo. E entre tantos acontecimentos loucos, tristes e absurdos fica a dúvida: será que as Olimpíadas da China vingam? E será que o Tibet sai dessa? Nessa altura do campeonato, tudo o que se pode esperar é que a corrida atrás da tocha - para apagá-la - vire esporte olímpico.