quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Filme Triste: 10 filmes de partir o coração

Natal, época controversa em que amor e solidariedade parecem tão normais quanto o arroz com feijão de todo dia. Também é tempo em que bate uma deprê e a gente só fica querendo alimentar essa tristezazinha gostosa, enfiado debaixo do cobertor e esperando a chuva lá fora passar. Passei os últimos dias listando um top de filmes tristes para assistir por esses dias nublados e cheguei a uma seleção de partir o coração de qualquer pobre mortal. Após a jornada vai dar para passar uns dias vendo umas comédias-pastelão (as férias são ótimas para isso). Enfim, eis a lista.

1 - As invasões bárbaras, de Denis Arcand (2003) - Remy é um professor universitário que está morrendo de um câncer terminal. Seu filho, Sebastian, especulador de sucesso do mercado financeiro, apesar dos problemas de relacionamento que tem com o pai, não mede conseqüências para dar um pouco de dignidade aos últimos momentos de vida de Remy. Com o dinheiro de filho, ele sai do sofrimento das filas de hospital (Remy se revolta contra isso porque foi à favor da estatização da saúde) e consegue um quarto exclusivo no hospital, dentre tantas outras maravilhas que o "capital" consegue viabilizar. Vendo tantas filosofias esquerdistas se arruinarem junto com sua morte, Remy se entrega a um doce adeus à vida, em meio a amigos queridos, amantes antigas e uma casa de campo à beira de um lago formidável, além das costumeiras doses de heroína para aplacar a dor insuportável. Interessante é observar que Remy chega a uma espécie de redenção ao admitir que tantas coisas em que acreditou tão profundamente são simplesmente dispensáveis. A certa altura, ele e os amigos enumeram os "ismos" em que se engajaram durante sua juventude e passam pelo marxismo, leninismo, maoísmo, trotskismo, entre tantos. "Só faltou o cretinismo", alguém lembra alegremente. Porque os homens passam e talvez as obras fiquem. Filme triste.

2 - Dogville, de Lars von Trier (2003) - No fim das Montanhas Rochosas, em meio à Grande Depressão Americana, Grace chega à pequena cidade de Dogville, onde os moradores têm "pequenos defeitos facilmente perdoáveis", segundo o narrador. Altruísta e otimista , Grace consegue abrigo a título de "troca" por tolos afazeres que não são necessários para a comunidade: todos sempre deixam claro que eles apenas "permitem" que Grace faça tais coisas e ela deve se mostrar muito agradecida pelo imenso favor, num eterno sistema de compensações entre a cidade e a jovem. Quando surge a notícia de que Grace é fugitiva da justiça as coisas pioram: a passividade e permissividade da moça e o abuso, que chega às raias da maldade, da comunidade levam tudo para uma situação insustentável, em que Grace é constantemente estuprada por um dos moradores como forma de "pagamento" por não denunciá-la às autoridades. A partir desse ponto, a constante dívida de Grace com a cidade só cresce e ela passa a ser tratada como escrava da comunidade. Quando tudo caminha para um fim trágico, numa tensão insustentável, o filme acaba numa situação indisgesta, com a nítida sensação de algo engatado na garganta. Porque a natureza humana é cruel mesmo.

3 - Festa de Família, de Thomas Vinterberg (1998) - O aniversário de 60 anos de Helge, pai de quatro filhos - uma delas morta recentemente, por suicídio - é motivo para reunir toda a família numa grande comemoração. Mas a aparente normalidade se mostra apenas superficial, escondendo a real natureza dos relacionamentos de família. Tudo se apresenta ainda no início do filme, quando conhecemos dois dos irmãos - o mais velho e mais bem sucedido, Christian e o mais novo e problemático, Michael. De cara, a irmã do meio, Helene, sofre com o preconceito de seus familiares contra seu namorado negro. A história toma rumos perigosos quando Christian, o irmão gêmeo que sobrou após o suicídio de Linda, é convidado a dizer algumas palavras em memória da irmã morta. Ele não só atende ao pedido da família, como também acaba por revelar que sofreu abuso sexual por parte do pai. Fora o bilhete de suicídio de Linda, que acaba vindo à tona no meio da festa. Uma cena clássica, que mostra claramente que velhas intrigas e revelações bombásticas acabam por tirar o frágil verniz das convenções. Muito triste.


4 - Boogie Nihgts, de Paul Thomas Anderson (1997) - Na crista da onda do cinema pornô, em plena e louca década de 70, Jack Horner, aclamado diretor do gênero "inventa" Dirk Diggler, um jovem e estreante ator que descobre que seu grande talento de 33 cm pode abrir as portas de um mundo feito com drogas, sexo e muita disco dance. Diggler passa a fazer parte de uma "família" que agrega atores, produtores, técnicos e toda a fauna que gira em torno da indústria pornográfica de filmes. Com essas pessoas, ele acaba aprendendo que a vida não é feita apenas de alegria à toda prova e encontra caras e bocas bem mais tristes do que as que se vê nos filmes de sexo explícito. O filme acompanha a "ascenção e queda" de personagens como Amber, a atriz que sofre porque não consegue a guarda do filho e se desdobra em cuidados maternais para com todos os colegas de trabalho; como a Rollergirl, sempre montada em seus patins e enfrentando o preconceito pela vida que leva; e até como o próprio diretor dos filmes e 'paizão' de toda a turma, que apesar de achar que faz arte através de seus filmes, só consegue enxergar mediocridade neles quando os avalia mais profundamente. Dirk Diggler é outro que também cai num mundo de vícios e crimes, ainda que permaneça a lenda do seu nome. Triste de doer.

5 - Felicidade, de Todd Solondz (1998) - Joy é a azarada filha caçula de uma família que só busca a pura e simples felicidade. Cada um ao seu modo, claro. Seus avós estão se separando após 40 anos de casamento e sua avó agora só pensa em arrumar um parceiro sexual. Sua irmã mais velha se acha muito feliz com a família que tem, mas seu marido é um psicanalista pedófilo que só pensa em conquistar o amiguinho afeminado de seu filho de 11 anos. A irmã do meio de Joy é uma escritora bem sucedida e ninfomaníaca que se acha infeliz por nunca ter sido estuprada, até que um maníaco sexual passa a aterrorizá-la. Tudo isso em meio ao eterno azar de Joy, que a despeito de seu nome de batismo, não consegue encontrar a alegria que tanto deseja. Apesar do azar e da clara "infelicidade", Joy se mantém perseverante e otimista, mesmo quando se torna voluntária numa escola para imigrantes em que os professores estão em greve e ao entrar para dar aulas é chamada de traidora e fura-greve. O que o filme mostra é que pessoas comuns são capazes de qualquer coisa na busca dessa tal felicidade, ainda que precisem tomar atitudes imorais e até criminosas. Um show de corações despedaçados!


6 - A.I. Inteligência Artificial, de Steven Spielberg (2001) - Calotas polares derretidas, recursos naturais escassos e a humanidade já em franca decadência. Assistir a tudo isso já deixa o espectador com uma deprê de dar dó. Quando somos apresentados a um futuro em que há robôs para tudo - trabalhos domésticos, trabalhos de escritório, para fazer companhia e até para fazer sexo! - descobrimos que o amor virou item de série na mais nova invenção dos humanos: David, um menino-robô que ama incondicionalmente. Ele é adotado por um casal que sofre pela doença terminal do filho - que foi congelado até que a cura fosse encontrada - e luta para ser amado por uma mãe deprimida e neurótica. Quando o filho verdadeiro volta e surgem as competições naturais pelo amor da mãe, David é abandonado numa floresta e começa aqui uma triste jornada para o menino, que não foi programado para esquecer o amor que sentia pela mãe. Suas únicas companhias são o ursinho Teddy e o robô-gigolô Joe, que tenta ajudá-lo a encontrar um lugar no mundo para David. "Eu só preciso fazer as mulheres felizes", explica Joe. Muito triste essa idéia de fazer do amor algo programável e o filme só caminha para mais tristeza, quando o Planeta Terra já se acabou, extra-terrestres tomam conta do que restou e fazem pesquisas para descobrir como foi a vida no planeta. O menino-robô congelado é descoberto e quando é reprogramado só tem lembranças de sua amada mãe. De partir o coração.

7 - Réquiem para um sonho, de Darren Aronofsky (2000) - Se o diretor decidisse batizar este filme de "sonhos despedaçados" teríamos um título brega, mas totalmente afinado com as histórias que vemos aqui. A dona de casa Sara quer ficar magra para caber em seu melhor vestido para participar de um programa de tevê - ela passa a usar anfetaminas para isso. Seu filho Harry quer ficar rico, mas não consegue trabalho e a namorada dele, Marion, sonha em ter uma grife. Enquanto tudo isso não acontece, Harry e seu amigo Tyrone têm uma idéia genial para ganhar dinheiro vendendo drogas, apesar de estarem sempre drogados. Quanto mais sonham, mais os personagens se afundam nas drogas, seja na daninha heroína, seja nas anfetaminas que podem emagrecer a dona de casa. Os personagens que se destroem em nome de seus sonhos mostram aos idealistas que nem tudo na vida é possível e que não basta apenas força de vontade para realizar grandes desejos. As cenas degradantes de Marion se prostituindo por drogas e Sara acossada pela feroz geladeira de sua casa são tristes símbolos do perigo que existe em acreditar tão piamente em sonhos.




8 - Menina de Ouro, de Clint Eastwood (2004) - Insistência deveria ser o nome de Maggie, personagem de Hilary Swank, que quer realmente ser uma campeã de boxe, apesar de ter chances quase nulas, segundo avaliação de Frankie (Eastwood), treinador de boxe que já teve seus dias de glória, mas faz questão de esquecê-los. Tanto insiste Maggi, até conseguir dobrar Frankie, que indo contra todos os princípios firmados por ele nos últimos anos, decide treinar a lutadora - e ela se torna campeã de boxe. Numa relação de amizade e confiança que só cresce ao longo da história, temos um final trágico, apesar de sensível e humano. A narração de Scrap (Morgan Freeman) torna tudo ainda mais triste, especialmente ao final do filme, em que Frankie vai embora de coração partido e ele - o narrador - filosofa: "Nesse momento, creio que ele já não sentisse nada." Cruel.





9 - Amores Brutos, de Alejandre González-Iñárritu (2000) - Com uma história que parece ser das mais complexas em todos os tempos, três vidas normais se entrelaçam de maneira trágica: o adolescente apaixonado que passou a ganhar muito dinheiro em brigas de cães; a modelo famosa e feliz que conseguiu tirar seu amante das mãos da esposa; e o agora matador de aluguel, ex-guerrilheiro, que vive um mundo de amarguras, se cruzam num terrível acidente de trânsito que altera a vida de cada um dos envolvidos da pior maneira possível. Num drama que envolve solidão, arrependimento, abandono, depressão e muito amor - especialmente pelos cachorros (daí o nome original do filme) - Amores Brutos mostra o quanto essa nossa vidinha é frágil, volátil e suscetível a desgraças de todos os tipos. Triste demais.







10 - Closer, de Mike Nichols (2004) - A stripper Alice se apaixona pelo jornalista-escritor Dan e vive numa doce e improvisada lua de mel até que seu amado se apaixona pela fotógrafa Anna, que prefere se casar com Larry, o médico - apesar de não hesitar em se tornar amante de Dan. Personagens egoístas, quase ególatras, e situações nada insólitas nos dão uma sensação de vazio e descrença no ser humano. O pior de todas as constatações, ao assistir ao filme, é que a vida tem sido assim mesmo, dessa maneira um tanto ensandecida e inconsqüente. A cena em que Dan abandona Alice, logo após um encontro sexual entre ele e Anna, é de estilhaçar o coração. O diálogo entre os personagens: "A última coisa que quero é magoar você..." - Dan, um tanto compenetrado. "Então por que está me magoando?" - Alice chorando. Crash total.







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No player - Filme triste, Chico César.
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Vote nos Lençóis

Dunas de areia bem branquinha, inúmeras lagoas de fascinantes águas azuis, um cenário paradisíaco apesar de improvável... Estou falando dos Lençóis Maranhenses, o dito "deserto brasileiro", que fica no litoral ocidental do Maranhão, a 332 quilômetros da capital São Luís. Cheios de dunas que parecem lençóis espalhados numa cama, a areia movimenta-se lentamente com os ventos constantes, nunca deixando o lugar com a mesma paisagem do momento anterior.
Transformado em parque nacional em idos da década de 80, os Lençóis têm atraído milhares de turistas somente pelo seu exotismo e condição quase improvável: são cerca de 155 mil hectares tomados pela areia que vem não se sabe de onde. Especialistas acreditam que o vento traz a areia do fundo do mar, fazendo as dunas avançarem até 50 km costa a dentro. Há quem acredite que a área já foi uma floresta tropical que acabou coberta pela areia "movediça".
E apesar de deter o título de "deserto brasileiro", os Lençóis não têm nada de deserto. Aqui chove 300 vezes mais que no Saara e logo depois das chuvas, incontáveis lagoas se espalham pela região durante seis longos meses - de janeiro a julho. Quando a estiagem chega, as chuvas diminuem, mas duas grandes lagoas permanecem encantando os visitantes, a Lagoa Bonita e a Lagoa Azul (fantásticas!).
Eleito a mais bela maravilha natural do Brasil por uma enquete realizada pela Revista Época, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses acabou sendo indicado para concorrer ao título de uma das sete maravilhas naturais do planeta. Não desmerecendo lugares fantásticos como Bonito, no Mato Grosso do Sul, o próprio Pantanal, na região Centro Oeste ou as paisagens deslumbrantes da Serra Gaúcha, mas os Lençóis Maranhenses guardam uma beleza sui generis, sem paralelo no mundo inteiro, que justificam plenamente a sua indicação para tal concorrência.
A Associação de Amigos dos Lençóis lançou um site super bacana para votar nesse paraíso brasileiro. Além de votar, lá também dá para ver fotos e vídeos sobre os Lençóis, ver roteiros turísticos até o local, enviar webcards para amigos e até publicar fotos que visitantes do parque fizeram quando estiveram por lá.

Para votar é simples. Vá até o votelencois.com e clique no "vote aqui". Lá, você coloca o seu email no lugar indicado. Lodo depois, sua caixa de entrada recebe uma mensagem em que você confirma o seu voto. Muito simples. Vão até lá!
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No player - I'm a Cuckoo, Belle & Sebastian
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domingo, 2 de dezembro de 2007

É peixe! ou O que tem de bom na Rede - parte 4



Porque a verdade é ácida e o kibe é cru: qualquer apresentação desta "instituição" da blogosfera é completamente dispensável. Tirar sarro é com ele mesmo, ridicularizar, também. Por falar nisso, ele andou publicando uns posts muito engraçados sobre a piada do momento, sim, ele mesmo, o Corinthians... que foi parar lá onde ele devia estar há muito tempo...
Idealizado pelo publicitário Antônio Tabet, o Kibe Loco está no ar desde 2002 e já recebeu mais de 55 milhões de visitas desde então. Fez tanto sucesso na net que foi parar na Rede Globo (blé!) - depois disso até pensei em abandoná-lo pela traição, mas... não deu né?!
O blog já levou o The Bob's, (aquele que o Pensar Enlouquece, Pense Nisso levou recentemente) de melhor weblog em português. Ele também já foi tema de discussão no Senado Federal, quando publicou uma fotomontagem engraçadíssima da então senadora Heloísa Helena. Nessa época, a Folha de São Paulo chegou a considerá-lo o site mais influente da internet brasileira.

Informações inúteis à parte, dêem uma passada lá no Kibe Loco e saboreiem o ótimo cardápio de piadas disponível no blog.

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No player - Kozmic Blues, Janis Joplin
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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Paris, te amo: como as coisas simples da vida


Assisti por esses dias esse filminho que, apesar da irregularidade, é muito bacana... Pudera! O projeto reuniu 21 consagrados diretores de cinema que aceitaram o desafio de filmar uma história de amor em Paris, com um orçamento limitado, em um tempo mais limitado ainda - a média entre os 18 episódios é de 5 ou 6 minutos para cada filmete. Mas agrada. E logo de cara!
A trilha sonora é muito boa e tão despretensiosa quanto a maioria das histórias contadas - justamente o que torna mais interessante o projeto que, a despeito dos grandes nomes que dão "grife" ao filme, ficou simples e encantador.
Num geral, os episódios falam de encontros românticos, como no caso do filmete dirigido pelo francês Bruno Podalydès, em que um homem solitário reclama da solidão e a resposta para seus problemas vem através de um tombo logo ao seu lado. O amor aparece também em outros contextos, como no caso do episódio estrelado por Juliette Binoche, em que uma mãe sofre a dor da perda de um filho. Esse recorte nos presenteia com uma Paris noturna e deserta, simplesmete linda. Tom Twiker (o alemão diretor de Corra, Lola, Corra) se utiliza de um recurso simples, mas eficiente para contar a história de amor entre Natalie Portman e seu namorado cego. Fantástica (e hilária) também é o quarto episódio, dirigido pelos Irmãos Coen (de Fargo e Matadores de Velhinha) em que um turista americano (Steve Buscemi) se vê em apuros dentro da estação de metrô por causa de um casal apaixonado e louco. Mas gostosura mesmo é o último episódio, dirigido pelo Alexander Payne (de Sideways), em que uma turista americana gorda e caipira vive momentos solitários dentro da "Cidade dos Amantes" e se descobre apaixonada por Paris. A poesia também agrada no episódio do casal de mímicos, num romantismo lúdico sem fim.
Apesar da já dita (e até esperada) irregularidade, Paris, eu te amo (2006, vários diretores) é um filme que vale o ingresso... e vale também a experiência. Ao sair da sala de cinema você só consegue pensar em como são boas as coisas simples da vida.
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Ouvindo nesse minuto: Feelings com Caetano Veloso
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domingo, 25 de novembro de 2007

Se a moda pega... parte 2


O apaixonado e o objeto de sua paixão

Sim, eu também não acreditei. Quando li essa notícia na Folha Online, há uns dias atrás, cheguei a pensar que se tratasse de uma pegadinha, uma piada, uma notícia desimportante, desinteressante, coisas do tipo. Num segundo olhar, me pareceu que nessa internet inventam cada coisa! Mas eis a notícia...

Patrick Moberg apaixonou-se perdidamente por uma garota que viu no metrô de Nova York e achando que nunca mais a encontraria novamente, resolveu criar um site, o nygirlformydreams, onde desenhou um esboço da moça, informando "vi a garota dos meus sonhos". Ele também deixou o número do seu telefone - não esquecendo de pedir "call me?"
E não é que a estratégia deu certo?! Dois dias depois, um amigo da mocinha viu o apelo, mandou um email para o apaixonado e colocou os dois em contato. O resto você pode imaginar. Dias depois do primeiro encontro, os dois foram convidados para participar do programa "Good Morning America", do canal ABC - uma espécie de "Mais Você" americano - e contaram a história toda lá.
Agora a parte chata da história: a moça por quem Patrick se apaixonou se chama Camille Hayton e é estagiária numa revista americana de comportamento, a BlackBook, que não perdeu a chance de faturar e abriu um concurso em que oferece outra de suas estagiárias para ser a próxima garota dos sonhos do metrô de Nova York. É mole?
(Não vou divulgar aqui o site da revista por achar que é muito oportunismo dessa tal BlackBook. E aliás, depois do imbróglio todo, será que, pelo menos, eles efetivaram a Camille?).

Se a moda pega...: seria uma "revolução" priorizar nos noticiários e jornais, historinhas de amor engraçadas como essa, em vez de só publicarem notícias tristes e escabrosas como essa aqui.

Fonte: Folha Online

P.S. A notícia triste e escabrosa que você vai encontrar no link é aquela mesmo, a da menina que ficou presa com mais de 20 homens numa cela de delagacia no Pará. Essa deve ser uma das mais revoltantes e tristes notícias do ano. Inclusive o Inagaki escreveu um sincero desabafo sobre o fato.

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Ouvindo agora: Ana's Song - Silverchair
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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

É peixe! ou O que tem de bom na Rede - parte 3

Este blog dispensa qualquer tentativa de apresentação. Já é um ícone do universo blogosférico. Não à toa recebeu o prêmio The Bob's - Best of the Blogs - de Melhor Weblog em Português, promovido pelo site alemão Deutsche Welle, através do mui democrático voto popular. Tem ótimas sacadas, textos engraçadíssimos, segundo o autor, baseados em fatos surreais.
Uma legião de fãs desse modo irresistível de escrever e a sintonia fina que mantém com outros blogs tupiniquins justificam o sucesso desse "blog mais ou menos pessoal". Escrito pelo jornalista Alexandre Inagaki (o japa logo abaixo), o site consegue ser uma legítima unanimidade inteligente, ao contrário do que dizia o mestre dos textos irreverentes, Nelson Rodrigues. Parabéns, Inagaki!

Será que ele gostou mesmo do prêmio?

Passem lá no Pensar Enloquece, Pense Nisso. É garantia de uma ótima leitura.


(Crédito da foto: Kibe Loco)

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No player: Assim, assado - Secos e Molhados.
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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Porque a Lei de Murphy existe: dez filmes que comprovam a teoria


Lênin indo embora...


1 - Adeus, Lênin! de Wolfgang Becker (2003) – A mãe de Alex, ferrenha defensora do comunismo da ex-Alemanha Oriental acorda de um coma de 15 anos no momento em que as duas Alemanhas se unificam. É dada a largada para uma corrida do filho contra os fatos, na tentativa de deixar o mundo exatamente como sua mãe gostava antes da longa dormida. Cenas engraçadas e até melancólicas compõem essa luta, mas Alex não pode fazer nada quando leva a mãe para passear no parque e estão levando embora a estátua de Lênin rebocada num helicóptero bem ali, na cara dos dois! Sem remédio... Adeus, Lênin.

2 - 21 gramas, de Alejandro Gonzalez-Iñarritu (2003) – Um acidente de carro altera a tênue felicidade de três famílias. O atropelador sente muita culpa; a ex-drogada, mãe da família morta, fica arrasada e disposta a voltar ao consolo químico; e um professor de matemática recebe um coração novo no lugar do seu defeituoso. Antes disso, diante da morte iminente do marido, Mary, numa inacreditável tentativa de provar o amor que sente pelo professor de matemática, decide engravidar através de inseminação artificial. Mas apareceu um coração novo e o amor antigo morre. Mary fica a ver navios. Cruel.

3 - Jackie Brown, de Quentin Tarantino (1997) – A comissária de bordo de uma companhia aérea obscura transporta dinheiro ilegal para o traficante de armas Ordell, que já está na mira dos federais. Quando Jackie é presa e obrigada a colaborar com a polícia, entra em cena Max, o agente de condicional que precisa ficar de olho nela 24 horas por dia. Mas Max se apaixona perdidamente por Jackie... Porque o amor pode ser doloroso. E até doloso!

4 - Fale com ela, de Pedro Almodóvar (2002) – Depois de sermos apresentados aos dramas pessoais de Benigno, Alícia, Marcos e Lydia, numa rotina de hospitais, cuidados e mulheres sem palavras, conhecemos situações ocultas que culminaram na circunstância atual: o amor de Benigno por Alícia, primeiro numa aula de balé através da janela de seu apartamento, depois na rotina hospitalar. Mas antes disso, no dia em que Benigno decide abrir seu sentimento para Alícia, ela sofre o acidente que a deixa em coma – e para sempre ignorante do amor do enfermeiro por ela. Porque a lei de Murphy existe.

5 - O Lenhador, de Nicole Kassell (2004) – Walter é um homem de meia-idade que passou 12 anos na cadeia cumprindo pena por pedofilia. Quando é libertado, através de uma condicional por bom comportamento, naturalmente é rejeitado pela vizinhança e até por sua família. Mas a tensão maior começa ao perceber que o apartamento onde vai passar seus dias fica em frente a uma escola elementar cheia de menininhas pré-púberes, o fraco do pedófilo em questão. Porque as coisas sempre podem ser piores do que se espera.

6 - E sua mãe também, de Alfonso Cuarón (2001) – Julio e Tenoch são dois típicos adolescentes que só pensam em sexo e aventura. A chance de unir essa perfeita combinação surge quando Luisa, a prima trintona de Tenoch recém-separada e que acabou de chegar da Espanha, propõe uma viagem a três, na busca da perdida praia Boca del Cielo. No caminho, paisagens deslumbrantes, menos sexo do que eles imaginaram e mais paixão do que previram. Num acerto de contas final, quando os dois se percebem apaixonados e rivais no amor pela balzaquiana que enfrenta um câncer terminal, os podres sexuais vêm à tona e cada um se vangloria por ter “passado o rodo” na namorada do outro. Diante da passividade de Julio, Tenoch, na última tentativa de atingir o amigo revela teatralmente: “Y tu mamá también!”. Não confie nem no seu melhor amigo...

7 - Garotos Incríveis, de Curtis Hanson (2000) – o filme, baseado no imperdível livro homônimo de Michael Chabon, é uma sucessão intermitente de fatos que comprovam e atestam que a Lei de Murphy existe. Em um único final de semana – em que ele, inclusive, precisa dar uma palestra sobre literatura – o professor e escritor Graddy Tripp é abandonado pela esposa, descobre que sua amante (esposa do seu chefe) espera um filho seu, precisa entregar os originais de um novo livro para seu editor (mas está inacabado), além de conseguir matar o cachorro do chefe e tentar equilibrar a cabeça desequilibrada de seu melhor aluno. Fantástico, fantástico.

8 - A professora de Piano, de Michael Haneke (2001) – o jovem aluno da professora de piano do título se vê perdidamente apaixonado pela mestra e toma a decisão de não medir conseqüências para conquistá-la (como todo jovem faria). A professora, muito austera e dona de uma personalidade insensível (até pela criação que mãe ditadora deu a ela), recusa terminantemente as investidas do aprendiz. Mas ele não desiste. E quando finalmente ele consegue quebrar o coração de gelo da pianista, percebe que ela é tão durona, contida (e até maluca), que esse romance vai deixá-lo muito, muito desapontado. O amor, esse ser insensível.

9 - Os infiltrados, de Martin Scorcese (2006) – Sullivan é um afilhado da máfia infiltrado na polícia. Billy é um ex-policial infiltrado na máfia. Os destinos dos dois personagens se opõem milimetricamente (até na mulher que dividem na cama), numa guerra de nervos e cuidados para identificar quem é “bom” e quem é “mau” – dependendo do lado em que está infiltrado. Num acerto de contas inesperado em que algumas verdades são reveladas, o mocinho leva um balaço na cabeça. Pungente.

10 - Pecados Íntimos, de Todd Field (2006) – Sarah é uma jovem dona de casa inteligente demais para a vida típica dos subúrbios americanos. Brad é o belo pai que troca de função com a esposa (ela é quem sustenta a casa) e vive na mesma frustração de Sarah. Quando os passeios no parquinho com os filhos viram desculpa para os encontros sexuais dos dois, eles passam a vislumbrar uma saída para essa vida enfadonha e planejam uma fuga. No dia da tal fuga, Brad sofre um acidente e Sarah fica sem entender porque o amante não apareceu. Porque se houver uma chance das coisas darem errado, elas darão errado.

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A Lei de Murphy – criada pelo engenheiro aeronáutico americano Edward Murphy, ele foi a primeira vítima conhecida de sua teoria. Ele era um dos engenheiros envolvidos nos testes sobre os efeitos da desaceleração rápida em piloto de aeronaves. Para fazer tal medição, construiu um equipamento que registrava os batimentos cardíacos e a respiração dos pilotos, por volta de 1949. O aparelho foi instalado por um técnico, mas simplesmente ocorreu uma pane; com isso Murphy foi chamado para consertar o equipamento e descobriu que o técnico instalou tudo errado. Daí formulou a sua lei que dizia: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”. Eu gosto mais da versão posterior, um pouco mais trabalhada, que diz: Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”.

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Ouvindo: At Last, Etta James

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sábado, 17 de novembro de 2007

Se a moda pega... parte 1


Por essa ele não esperava! Depois de arrancar a cabeça de um morcego a dentadas e, supostamente, ter incentivado o suicídio de um fã de 19 anos através da música “Suicide Solution” em 1984, Ozzy Osbourne, já um senhor de quase 60 anos de idade, vai ter que engolir essa...
A polícia estadual de Dakota do Norte - Estados Unidos, sem pedir autorização ao rock star, fingiu organizar uma festa em que o cantor seria uma das atrações e enviou convites gratuitos do suposto show para os 500 homens mais procurados pela Justiça do Estado. Trinta deles chegaram a cair na armadilha, comparecendo à "festa" e sendo imediatamente detidos.
O cantor inglês anunciou que sente-se insultado pela polícia dos Estados Unidos, pois ela teria usado o seu nome sem permissão, associando-o ao mundo do crime (!). O delegado do condado onde tudo aconteceu, Paul Laney, disse que não teve a intenção de "desrespeitar o senhor Osbourne ou o seu espectáculo". Já Osbourne diz que "é um insulto para mim e para os meus fãs e mostra como este delegado é preguiçoso no seu trabalho".

Se a moda pega
...: Ahhh... se pega no Brasil!

Fonte: Portugal Diário
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No player - Urubu tá com raiva do boi, Baiano e os Novos Caetanos


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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

É peixe! ou O que tem de bom na Rede - parte 2

Londres ...................................................................................................... Paris

São Paulo



Londres ........................................................................................... New York


O que a mocinha com cara de boneca de Londres, o rapaz com chapéu côco de Paris, a moça da saia rodada de São Paulo, o look moderno da japonesa em Londres e o visual dark do garoto anoréxico de Nova York têm em comum, além do fato de todos poderem ser rotulados como legítimos representantes do mundo fashion? O Face Hunter é a resposta para essa simples pergunta, mas... o que é mesmo esse negócio?
O Face Hunter é um blog que tem ditado moda no mundo inteiro. Não é à toa que os personagens acima são de lugares totalmente distintos um do outro, embora guardem entre si a característica um tanto incomum de se poder encontrar neles pessoas que não se importam em parecer excêntricas, ousando através das roupas que vestem. Interessante mesmo é que tenha quem dê tanto valor a esse tipo de coisa, caso do idealizador do blog, o suíço radicado em Paris que acabou de inventar um novo ramo no mercado de trabalho: fotógrafo de street style, clicando pessoas com roupas originais, ousadas, às vezes absurdas ou simplesmente interessantes. Seu nome: Yvan Rodic, 29 anos. Ele começou fotografando, despretensiosamente, gente bacana que via nas ruas e em festas que freqüentava. De acordo com o que li numa Revista Veja velha (acho que é de fevereiro de 2007), hoje o site recebe uma média de 5 a 20 mil visitas por dia e ainda se considera em fase experimental. A despeito de seu experimentalismo, em menos de um ano de fundação do site, o seu fundador ganhou um emprego de fotógrafo de revistas de comportamento, além de ser convidado para semanas de moda em várias partes desse mundinho fashion. Sim, ele esteve na São Paulo Fashion Week, não só fotografando os visuais tupiniquins, mas também dando palestras sobre moda. É mole?
Os cinco personagens deste post podem ser encontrados no blog do Rodic, o Face Hunter. E outras centenas de pessoas que foram flagradas em ruas, festas e eventos de moda ao despertar a atenção deste especialista na arte de improvisar.
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Passem lá no Face Hunter e experimentem saber se dá para se inspirar nas produções malucas dos anônimos das fotos.
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Escutando neste minutinho: Like a rolling stone, Bob Dylan
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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Norman morreu!!!

O jornalista e romancista americano Norman Mailer (ele também era cenógrafo) sempre foi considerado um chato. Chato e estranho. Tão estranho que, comumente, alguns esquisitos que se aproximavam de nossa "turminha" no curso de comunicação sempre recebia o nome do escritor como codinome. "Fica calmo que lá vem o Norman Mailer", dizia Carlos Alberto. A chatice de Mailer também era traço das personalidades dos alheios às nossas regras internas. Bairrismos dos tempos de faculdade à parte, nós sabíamos muito bem quem era esse excêntrico - tanto que era como se ele fizesse parte da galera. Mas os pseudo-clichês intelectuais usuais em nosso cotidiano não mascaravam certas verdades e apesar do Norman [olha a intimidade...] ser famoso pelo temperamento forte (leia aqui: chatice) e ser arredio a movimentos como o feminista (mas por que justamente contra a mulher?), tirávamos o chapéu a ele, pela sua postura de "quase-ícone" da contra-cultura americana.
Um dos símbolos dessa atitude anti-imperialista de Mailer foi uma de suas obras mais conhecidas, o livro-reportagem A Luta, na qual descreve o histórico enfrentamento entre os boxeadores Muhammad Ali e George Foreman, em 1974. Mais do que uma luta de boxe, o confronto realizado no Zaire - até hoje considerado a maior luta de todos os tempos - colocou cara-a-cara duas faces do mesmo Estados Unidos: George Foreman, que se vestia com as cores da bandeira americana e representava a suposta superioridade branca (apesar de ser negro) e Ali, que tivera seu título de campeão mundial de pesos-pesados revogado por se recusar a servir o Exército no Vietnã [antes disso, ele já tinha abandonado seu nome de batismo, Cassius Clay, por Muhammad Ali e trocado o imperialismo norte-americano pela fé em Alá]. Ali acabou vencendo a luta: o mundo ganhou uma lição e nós, leitores, ganhamos uma leitura das boas.
Despedida - Norman Mailer morreu no sábado, dia 10 de novembro, de insuficiência renal, segundo familiares, aos 84 anos. Além de livros interessantes e um sólido modelo de postura pública, deixou nove filhos órfãos. (Alguns leitores também.)
* * * * *
Escutando agora - One for my baby, Billie Holiday.


sábado, 10 de novembro de 2007

É peixe! ou O que tem de bom na Rede - parte 1


Este é peixe dos grandes! E não é história de pescador...

Escrevo este ensaio enquanto escuto o "inominável" álbum que oficializou a Tropicália na História da Música Brasileira e que acabei de baixar da Rede através do delicioso Um Que Tenha, um dos blogs mais fundamentais para quem gosta de educar os ouvidos enquanto passeia pela internet - e nem precisa estar navegando para escutar as músicas que você encontra aqui: dá para baixar álbuns inteiros. Mas não se trata de apologia ou mesmo apoio a pirataria e coisas do tipo: o grande lance é que aqui vale à pena que qualquer um tenha e possa compartilhar de pérolas como Tropicália ou Panis et Circenses.
Camuflado atrás do pseudônimo Fulano Sicrano, um benfeitor disponibiliza download de mais de 900 artistas através de cerca de 2600 álbuns, sendo que, pelo menos 80% desses discos, são absolutamente difíceis e complicadíssimos de encontrar em qualquer prateleira obscura de uma boa loja de raridades. Lá é possível garimpar 40 álbuns de Tom Jobin, até 3 do super-cult Sérgio Sampaio, 9 do Nelson Gonçalves e até mais de um álbum do dificílimo Nelson Sargento! Estão lá também o Chico [Buarque], a Bethânia e seu ilustríssimo irmão, Jorge Mautner e alguns fundamentais americanos, como Ella Fitzgerald, Coleman Hawkins e Chet Baker, além de representantes de peso do popular-brega, como Valdick Soriano e Cauby Peixoto.
Conheci esse peixe grande através de meu amigo Gil Brandão, tentando me tirar de um sábado de puro tédio, desses que acontecem de vez em quando.

O álbum - Lançado em 1968, Tropicália ou Panis et Circenses funcionou como manifesto oficial de um dos movimentos musicais mais criativos e inventivos que este país já viu e ouviu. Rogério Duprat orquestrou com maestria a louca sonoridade do disco, que reuniu Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, Nara Leão, Tom Zé e Torquato Neto. Entre suas 12 canções, algumas chegaram ao status de hino do movimento, como a própria Panis et Circenses, Geléia Geral, Baby e a incrível Bat Macumba. Aliás... incrível mesmo é o álbum inteiro. (E por falar nisso, a Tropicália está completando 40 anos... Não deixe de conhecer mais sobre o movimento.) Agora vai lá baixar! Antes disso, explore logo o disco por aqui, faixa por faixa:

1 - Misere Nobis
Interpretação: Gilberto Gil
A letra é uma referência direta àqueles hinos em latim, muito entoados nos cultos católicos nos idos dos anos 60 (até a Igreja do Papa achar que valia à pena os fiéis brasileiros entenderem o que tanto se falava nas missas).

2 - Coração materno
Interpretação: Caetano Veloso
Faixa intrigante, meio épica e emocionante. A produção musical nela incluiu até tiros de canhão!

3 - Panis et circenses
Interpretação: Mutantes
Candidata a hino do movimento, a faixa que empresta seu nome ao título [ou subtítulo] do disco foi diretamente influenciada pelo famigerado Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, um dos discos mais importantes de todos os tempos, muito pelas suas invencionices musicais. Aqui a produção musical arrumou a simulação de um jantar ao vivo, já que as pessoas estão na sala de jantar.

4 - Lindonéia
Interpretação: Nara Leão
Delícia de faixa, um bolero nada convencional, até meio pessimista, falando de cachorros mortos na rua e coisas do tipo... Reza a lenda que a letra foi inspirada num quadro do artista plástico Rubens Gershman e feita pelo Caetano a pedido da própria Nara Leão.

5 - Parque industrial
Interpretação: Caetano Veloso / Gal Costa / Gilberto Gil / Mutantes
O pesquisador da História da MPB, Luiz Américo Lisboa, ligou o título dessa música ao título de um livro de Patrícia Galvão, a famosa Pagu dos anos 20. "Porque é made in Brazil".

6 - Geléia geral
Interpretação: Gilberto Gil
Canção mais panfletária do disco, destacando o regionalismo exacerbado da cultura brasileira. Uma pérola muito inspirada... Mais uma referência ao disco dos Beatles, incluindo sons de rua em sua produção.

7 - Baby
Interpretação: Caetano Veloso / Gal Costa
Aquela doçura que é a Gal cantando essa música... Mais uma faixa inegavelmente tropicalista.

8 - Três Caravelas (Las tres carabelas)
Interpretação: Caetano Veloso / Gilberto Gil
Um ensaio de bebop que vira uma rumba cubana; faixa muito agradável, contando de maneira irreverente a chegada dos descobridores da América ao novo continente.

9 - Enquanto seu lobo não vem
Interpretação: Caetano Veloso
A mim parece a primeira declaração de amor pública que o Caetano fez à Estação Primeira de Mangueira...

10 - Mamãe coragem
Interpretação: Gal Costa
Interpretação primorosa da Gal, com letra de uma graça encantadora. Muito a cara do Torquato.

11 - Bat macumba
Interpretação: Gilberto Gil
A letra lembra mais um desses poemas concretos que foi musicado. Mas o resultado é ótimo!

12 - Hino ao Senhor do Bonfim
Interpretação: Caetano Veloso / Gal Costa / Gilberto Gil / Mutantes
Não poderia terminar melhor: todo mundo celebrando o Brasil numa paródia muito louca das bandas de coreto do interior (referência ao militarismo dominante da época) falando de justiça, concórdia e até graça divina!

Vai buscar logo lá no umquetenha.blogspot.com

Qualquer problema na hora de fazer o download, aprenda aqui como baixar arquivos no Rapid Share.


quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Amo muito tudo isso!

Estive lendo por esses dias - numa dessas reportagens que se você não ler, perdeu algo muito importante para sua vidinha pós-moderna – que o Tom Cruise rejeita e-mail e diz dormir só 3 horas por dia. Na matéria, publicado pela Folha Online, o holywoodiano conta que está na melhor fase de sua vida, e que veste “calça jeans, meias, camiseta e cinto”. Ele também enumera as coisas que mais gosta ultimamente em sua vida. Que perda de tempo! Quem quer saber disso? Infelizmente um monte de gente se interessa por tolices como essa – o link para a “notícia” estava em terceiro lugar no ranking das matérias mais lidas da Folha do dia 07 de novembro. Numa mórbida curiosidade, acabei fazendo uma pesquisa no Google com palavras-chaves muito simples, mas com ótimos resultados (1.860.000 em 0,23 segundos). Dentre as muitas opções, “entrevista com celebridades” me levou a uma página recheada de entrevistas com celebridades de toda espécie, desde Sacha (filha da Xuxa) até Fátima Bernardes, passando por atores “cool” como Samuel L. Jackson e celebridades em baixa como ex-BBBs (Íris e Graziela Massafera). Nas declarações que deram manchetes, palavras indecorosas e conclusões até vergonhosas estampavam a página de cima a baixo.
Partindo do pressuposto de que a Suzana Vieira pode afirmar que se sente como uma paquita, o José Mayer se achar um garanhão e um tal Malvino Salvador se ver como um saradão gostosão, acredito que também posso falar, neste espaço, sobre coisas que gosto ou que não gosto – achem tolice ou não!

Vamos lá: tenho me sentido bem adolescente, gostando de um monte de coisas desimportantes, mas que fazem uma diferença... Outro dia, numa feira de livros aqui na cidade, me peguei enchendo uma sacola com gibis. Já tinha comprado um ou outro livro, mas gibi do Fantasma!? Comprei mesmo. E essa minha paixão por quadrinhos e tiras já é meio exposta, meio conhecida... nada melhor que assumir logo isso. O hiperativo Calvin e seu tigre Hobbes; e a turma inteira do Mindubim! Das baboseiras atuais, adoro as séries importadas – Heroes, Smallvile, The 4400, Prison Break. Gosto também de leituras em geral – até bula de remédio, se não tiver nada pra matar a vontade. Mas tem coisa que não dá para engolir, embora pareça puro preconceito... Paulo Coelho e auto-ajuda não adianta insistir.
Adoro meu trabalho, mas às vezes ele é muito duro. Amo essa carreira de escrever, mas não é tão recompensadora... Quem sabe daqui para a frente isso não melhore... Caso contrário, minha saída mais fácil para o sucesso é começar a escrever sobre celebridades. Quem sabe não seja um bom campo de trabalho, esse
de biógrafa...

terça-feira, 13 de março de 2007

O mesmo, no entanto, diferente - Ensaio sobre Sêpsis, de Geraldo Iensen

Capa e contracapa de Sêpsis, projeto do designer Edu Rodrigues


Sêpsis é encantador. E assustador. Não por acaso essas duas palavras rimam com dor...
O tom desiludido, um tanto perdido, faz lembrar Kerouac – quando este acreditou que a saída era fugir. Aliás, fugir é um verbo bem conjugado ao longo do texto. Não porque José Maria parece fugir de um (im)provável crime, não porque tudo começa no Rio de Janeiro, vai a Johannesburgo (antes aterrissa em Londres), passa por Brasília, transita em São Luís, passeia por Belém e se encerra num rio perdido no meio da Amazônia – nada disso. A fuga de José Maria, esse anti-herói urbano, vai além do que sugere o sentido clássico da palavra e nos leva a um conceito, por vezes, bem mais usado na sucessão dos dias: o da escapatória, do subterfúgio. Um maluco fugindo de seus instintos, sejam sexuais ou, quem sabe até, homicidas. Mas a fuga é apenas conseqüência, numa vida afundada em despautérios...
Quando o narrador-José Maria diz que “o que impele o mundo é o mundo passado, a dificuldade de aceitar o desconhecido, o esquecido, a escuridão”, ele oferece a chave do mistério que move sua vida. Um mundo já esmaecido, que pode ser apenas o passado ou transformar-se naquilo que é conveniente a quem conta. Conveniência talvez nem fosse a palavra adequada, porque a relação poderia ser outra, como aquela eternizada no dito popular que afirma que “o pior cego é aquele que não quer ver” ou, pelo menos, prefere enxergar de maneira diferente.
Chegando a esse ponto, fica inevitável a referência a um clássico universal, especialmente pelo perfil (psicótico?) dos personagens centrais: Dom Quixote, da província de La Mancha, região central da Espanha do tempo das navegações, que tinha como escudeiro fiel, o ativo Sancho Pança. Aqui cabe uma pergunta. (E mais uma comparação: a psiquiatra Ana Luzia parece acelerar o surto em José Maria e – embora o bem intencionado Sancho não tenha intervindo nas decisões loucas de seu amo – os dois parecem exercer uma função biunívoca nestas duas histórias). Agora sim, a pergunta. Quem é mais louco: Dom Quixote, por lutar com moinhos de vento, ou Sancho Pança, por concordar com as sandices de seu amo?
Será que Zé Maria era louco mesmo? Afinal, sua cabeça apenas trabalhava sobre fatos, lembranças, esperanças não alcançadas... Coisas que afligem a cabeça de qualquer “normal”. Uma esposa estranha, uma família estranha, uns hábitos estranhos, um irmão estranho – e gêmeo! – o adorado João Maria, aquele que, há dez anos, dava “duro” no Senado para sustentar os dois. Seria mais um personagem nesta quadrilha, que não é a do Drummond, mas também termina em dor... João Maria seria Dulcinéia, aquela a quem os quixotes esperam um dia reencontrar – ainda que apenas idealizada?
José Maria é um personagem que lembra a viúva-negra, tranqüilamente fiando sua teia fatal... a qualquer um que se ache corajoso o bastante para contar suas agruras, suas decepções, seu desapontamento com este mundo errado, tão inóspito para corações românticos e afeitos a rotinas. Mas ele não: Zé Maria é contrário a qualquer hábito, só não àqueles que não possui controle – a falta de sexo, por exemplo... Ele não admite homens que abram mão disso por mulheres tolas; não admite que homens deixem para trás uma coisa que ele [Zé Maria] nunca vai poder experimentar. Não como o gêmeo João Maria. Não como qualquer um consideraria quando já não houvesse outra forma... Seria a inveja o mal deste homem?
O caminho de José Maria parece correr atrás de epifanias – um encontro com Deus. Nem que seja o Deus interior do próprio personagem, este ser frio e cruel, que não planeja nada, mas acaba com tudo. Aliás, este é um personagem diferente do que Iensen tem escrito, embora muito dos outros se veja nele: um desenraizamento, um desterro completo. E aqui se cai no que é muito recorrente na literatura deste desiludido. Uma mágoa aparente, inesgotável, que atravessa toda a história (todas as histórias) contada por ele. Decepção, desilusão. Mas esta história traz uma fuga à sua já distinta filosofia. Para Zé Maria não existe a escolha entre miséria e ilusão: tudo já é miséria transformada em des-ilusão (ou será o contrário?). Caminho estranho para este escritor enraizado – ao contrário de seus personagens – em suas certezas. Aliás, ele diria “a certeza é uma prisão”. Então, que venham os exercícios de liberdade!
Encantador. A prosa de Iensen, nessa minha mania ridícula de explicar tudo – ai, os positivistas... – eu nomearia como “prosa poética”. Uma prosa pouco prosaica e muito poética. Um narrador consciente, habilidoso; tanto com as palavras, quanto com as idéias. Um narrador que quer participar da história, mas que também parece se conformar em simplesmente narrar tudo o que está lá para ser contado – pelo menos de vez em quando. Mas me retiro da questão formal porque o que falo é sobre a impressão de leitura, de leitora. Ele que continue escrevendo com tanto desencanto, mas sempre encantando quem o lê, abusando dessa pinta de incompreendido, porque, no fundo, é isso que vale à pena mesmo, como sabiamente aconselha Cioram.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

O Fantástico Mundo do Cidadão Kane



Como a criação do mundo deu-se a partir do Fiat Lux, a “invenção” do Cinema também começou com luz, mas em forma de fotogramas. Desde a famosa exibição dos Irmãos Lumière no subterrâneo do Grand Café de Paris, até hoje, o Cinema passou por uma série de evoluções tecnológicas, algumas desenvolvidas com tamanha rapidez que poderíamos até nomear certas inovações técnicas como verdadeiros “saltos de evolução” do Cinema: foi assim nos anos 20 do século passado, quando inventou-se a linguagem cinematográfica e o som passou a fazer parte da “fotografia em movimento”. O próximo grande passo do Cinema foi dado num filme, ou melhor, foi um filme, sempre presente nas listas dos melhores de todos os tempos: Cidadão Kane, de Orson Welles, lançado em 1941.
Em tudo, Cidadão Kane foi inovador: ao usar atores de teatro para caprichar nas interpretações, ao “estrear” o uso da narrativa não-linear, através de flashbacks, dentre outras técnicas nunca usadas no Cinema. A própria montagem da obra, os truques de edição, os planos e ângulos de Cidadão Kane fazem deste filme algo tão fantástico quanto um espetáculo de prestidigitador.
O motor do filme é apresentado logo no começo do filme, numa seqüência de recursos inovadores, quando um velho, em seus estertores, consegue pronunciar a palavra “Rosebud”. Até aí nada demais, para nós, seres do século XXI, acostumados com uma certa linguagem no cinema; mas para os contemporâneos de Welles, o que significou tudo isso na época? Além de recursos como o travelling e a fusão de películas, a obra inova com uma fotografia cheia de sombras, que define o clima dark que o filme vai adquirindo, especialmente à medida em que Kane demonstra seu lado negro: ao fazer peripécias em proveito próprio, a sombra vai tomando conta do quadro, dominando o cenário e encobrindo o personagem.
Ao final do filme, ao vermos a fumaça fluir pela chaminé do Castelo, percebemos que Rosebud é mistério irresolvido, pelo menos para os jornalistas que buscam a verdade sobre a palavra misteriosa: só quem sabe é o espectador, a grande piada de Orson Welles. Quem contou para os jornalistas que essa foi a última palavra pronunciada por Kane, já que ele estava sozinho no quarto em seu leito de morte?
Pode ser que nem todos gostem tanto assim da história de Cidadão Kane, mas, analisando toda a sua importância, o filme é impecável. Uma obra importante para a história do cinema, um divisor de águas. É difícil definir o que é mais interessante, a história no filme ou a história do filme. Mas apesar de todas as polêmicas, o grande trunfo de Cidadão Kane é muito mais sutil do que parece: a publicidade da obra é fantástica, por vários motivos. Primeiro que Welles era muito jovem para conseguir fazer um filme com tantos recursos (Welles tinha apenas 27 anos quando o filme ficou pronto). Segundo: o próprio diretor tratou de vender bem seu peixe, não permitindo que executivos da distribuidora presenciassem filmagens, tampouco a imprensa - que ficou interessadíssima em saber que diabos era aquilo tudo! Por último, mas não menos importante: logo quando foi lançado, todo mundo reconheceu em Charles Foster Kane o (verídico) magnata do jornalismo, William Randolph Hearst, que tratou de tentar barrar de todas as maneiras a exibição do filme. Pudera! Além de se inspirar na biografia do milionário (apesar de não admitir), Welles conseguiu fazer piadas que, para Randolph, não teve graça alguma.

A pior é a tal Rosebud, que ninguém sabia o que era - mas todo mundo queria saber - e a despeito de tudo, o filme termina mas não explica. Explico agora: a inspiração de Welles veio do apelido carinhoso que Randolph dava à vagina de sua amante preferida. Aí era demais para Randolph! Como esse rapaz soube de uma intimidade como essa? Mas Welles... Ah! Welles... Nunca admitiu que tanta coincidência sempre fora mera inspiração. Pior para Randolph e melhor para nós, que podemos ver obras-primas (uh!) como essa!