Já vi muitos e isso torna especialmente difícil e árdua a tarefa de escolher um só para ser "o" filme da minha vida. Como acabei fazendo na escolha do livro da minha, decidi apontar três títulos que mudaram para sempre minha maneira de ver a vida.
Vou começar pelo filme que me causou a sensação mais gostosa que se tem ao assistir um filme: o encantamento. Supercalifragilisticexpialidocious! Quando escutei isso pela primeira vez - lá pelos meus oito anos - nossa! O encantamento foi imediato. Mary Poppins [1964, Robert Stevenson] com sua sombrinha que servia de pára-quedas, seu amigo limpador de chaminés que fazia desenhos no chão - e dava pra mergulhar neles - e sua valise com um fundo sem fim fez parte de meu imaginário por muitos anos. E até hoje, quando ando no maior estresse, essa obra-prima do cinema sempre aparece como apaziguador dos hormônios e pressões da vida: é só assistir que saio feliz, cantarolando as canções da babá mais divertida do mundo.
O segundo filme da lista foi o que me causou uma fascinação que me faz suspirar até hoje, quando penso nele: Casablanca [1942, Michael Curtiz] com sua história de amor cheia de rancores e paixões exacerbadas conquistou platéias do mundo inteiro e não foi por acaso! Rick (Humphrey Bogart) é sombrio e desiludido, encarando a vida com a dureza e o cinismo dos que carregam o coração partido; ele comanda um bar em Casablanca, único ponto de fuga para sua amada Ilsa, (Ingrid Bergman, lindíssima) que não está sozinha, mas com o marido - e ele não é qualquer um: ele é simplesmente um dos cabeças da resistência tcheca ao nazismo que tomava conta da Europa na Segunda Grande Guerra. Em meio a toda a turbulência política que ronda o local, Rick e Ilsa relembram o grande amor vivido entre os dois ainda em Paris, antes da invasão nazista na França. E quando Sam, o pianista do Rick's Bar toca As time goes bye, após a discreta insistência de Ilsa, a paixão por essa história e por esse filme é instantânea.
Uma outra coisa que destaco nesse filme é a riqueza dos diálogos, com frases e situações afiadíssimas para quem gosta de prestar atenção nisso. Tudo é muito cínico, tudo é muito duro, principalmente quando os personagens do Risck's Bar estão em cena. Na passagem em que Ilsa insiste que Sam toque As time goes by, ele simplesmente finge que não a conhece! O diálogo:
ILSA: Toque uma vez, Sam. Pelos bons velhos tempos.
SAM: Eu não sei o que quer dizer, senhorita.
ILSA: Toque, Sam. Toque As time goes by.
E os acordes e o vozeirão de Sam enchem o bar, para desespero de Rick, que queria mesmo era esquecer aquilo tudo. Fan-tás-ti-co!
O último filme dessa humilde lista é um que me causou fascinação e encantamento pela riqueza dos personagens apresentados ali. Também me fez ter certeza de que o cinema e a arte são uma fábrica inesgotável de possibilidades: Dogville, de Lars von Trier [2003]. Cinema com cara de teatro, teatro do absurdo, teatro caixa preta, num galpão escuro e sem elementos de cena. Um filme baseado na força de sua história e de suas atuações: um show.
O filme começa com uma tomada de cima, onde se pode ver o desenho da cidade - com as marcações dos espaços das casas desenhados no chão. A cidade se chama Dogville e é lá que Grace (Nicole Kidman, atuação fenomenal) procura abrigo ao fugir de gângsteres. Os moradores do local não querem se comprometer, mas deixam Grace ficar por ali, fazendo tarefas que "não são necessárias", mas que os moradores "generosamente" permitem. A verdade é que não há generosidade ou bondade, mas apenas uma relação de troca. E é aqui que a história relata de maneira magistral a arrogância inata ao ser humano. Lindo, simplesmente lindo.
Esses são os filmes da minha vida. Espero que tenham assistido - e gostado.
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Escute aqui As time goes by como toca em Casablanca.
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Este post faz parte da Blogagem Coletiva - O Filme da Minha Vida, proposta pela Vanessa, do Fio de Ariadne, ao qual 120 blogueiros cinéfilos aderiram e estão, hoje e amanhã, escrevendo sobre os filmes de suas vidas. Para ler esse pessoal todo, clique aqui.
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