Natal, época controversa em que amor e solidariedade parecem tão normais quanto o arroz com feijão de todo dia. Também é tempo em que bate uma deprê e a gente só fica querendo alimentar essa tristezazinha gostosa, enfiado debaixo do cobertor e esperando a chuva lá fora passar. Passei os últimos dias listando um top de filmes tristes para assistir por esses dias nublados e cheguei a uma seleção de partir o coração de qualquer pobre mortal. Após a jornada vai dar para passar uns dias vendo umas comédias-pastelão (as férias são ótimas para isso). Enfim, eis a lista.
1 - As invasões bárbaras, de Denis Arcand (2003) - Remy é um professor universitário que está morrendo de um câncer terminal. Seu filho, Sebastian, especulador de sucesso do mercado financeiro, apesar dos problemas de relacionamento que tem com o pai, não mede conseqüências para dar um pouco de dignidade aos últimos momentos de vida de Remy. Com o dinheiro de filho, ele sai do sofrimento das filas de hospital (Remy se revolta contra isso porque foi à favor da estatização da saúde) e consegue um quarto exclusivo no hospital, dentre tantas outras maravilhas que o "capital" consegue viabilizar. Vendo tantas filosofias esquerdistas se arruinarem junto com sua morte, Remy se entrega a um doce adeus à vida, em meio a amigos queridos, amantes antigas e uma casa de campo à beira de um lago formidável, além das costumeiras doses de heroína para aplacar a dor insuportável. Interessante é observar que Remy chega a uma espécie de redenção ao admitir que tantas coisas em que acreditou tão profundamente são simplesmente dispensáveis. A certa altura, ele e os amigos enumeram os "ismos" em que se engajaram durante sua juventude e passam pelo marxismo, leninismo, maoísmo, trotskismo, entre tantos. "Só faltou o cretinismo", alguém lembra alegremente. Porque os homens passam e talvez as obras fiquem. Filme triste.
2 - Dogville, de Lars von Trier (2003) - No fim das Montanhas Rochosas, em meio à Grande Depressão Americana, Grace chega à pequena cidade de Dogville, onde os moradores têm "pequenos defeitos facilmente perdoáveis", segundo o narrador. Altruísta e otimista , Grace consegue abrigo a título de "troca" por tolos afazeres que não são necessários para a comunidade: todos sempre deixam claro que eles apenas "permitem" que Grace faça tais coisas e ela deve se mostrar muito agradecida pelo imenso favor, num eterno sistema de compensações entre a cidade e a jovem. Quando surge a notícia de que Grace é fugitiva da justiça as coisas pioram: a passividade e permissividade da moça e o abuso, que chega às raias da maldade, da comunidade levam tudo para uma situação insustentável, em que Grace é constantemente estuprada por um dos moradores como forma de "pagamento" por não denunciá-la às autoridades. A partir desse ponto, a constante dívida de Grace com a cidade só cresce e ela passa a ser tratada como escrava da comunidade. Quando tudo caminha para um fim trágico, numa tensão insustentável, o filme acaba numa situação indisgesta, com a nítida sensação de algo engatado na garganta. Porque a natureza humana é cruel mesmo.
3 - Festa de Família, de Thomas Vinterberg (1998) - O aniversário de 60 anos de Helge, pai de quatro filhos - uma delas morta recentemente, por suicídio - é motivo para reunir toda a família numa grande comemoração. Mas a aparente normalidade se mostra apenas superficial, escondendo a real natureza dos relacionamentos de família. Tudo se apresenta ainda no início do filme, quando conhecemos dois dos irmãos - o mais velho e mais bem sucedido, Christian e o mais novo e problemático, Michael. De cara, a irmã do meio, Helene, sofre com o preconceito de seus familiares contra seu namorado negro. A história toma rumos perigosos quando Christian, o irmão gêmeo que sobrou após o suicídio de Linda, é convidado a dizer algumas palavras em memória da irmã morta. Ele não só atende ao pedido da família, como também acaba por revelar que sofreu abuso sexual por parte do pai. Fora o bilhete de suicídio de Linda, que acaba vindo à tona no meio da festa. Uma cena clássica, que mostra claramente que velhas intrigas e revelações bombásticas acabam por tirar o frágil verniz das convenções. Muito triste.
4 - Boogie Nihgts, de Paul Thomas Anderson (1997) - Na crista da onda do cinema pornô, em plena e louca década de 70, Jack Horner, aclamado diretor do gênero "inventa" Dirk Diggler, um jovem e estreante ator que descobre que seu grande talento de 33 cm pode abrir as portas de um mundo feito com drogas, sexo e muita disco dance. Diggler passa a fazer parte de uma "família" que agrega atores, produtores, técnicos e toda a fauna que gira em torno da indústria pornográfica de filmes. Com essas pessoas, ele acaba aprendendo que a vida não é feita apenas de alegria à toda prova e encontra caras e bocas bem mais tristes do que as que se vê nos filmes de sexo explícito. O filme acompanha a "ascenção e queda" de personagens como Amber, a atriz que sofre porque não consegue a guarda do filho e se desdobra em cuidados maternais para com todos os colegas de trabalho; como a Rollergirl, sempre montada em seus patins e enfrentando o preconceito pela vida que leva; e até como o próprio diretor dos filmes e 'paizão' de toda a turma, que apesar de achar que faz arte através de seus filmes, só consegue enxergar mediocridade neles quando os avalia mais profundamente. Dirk Diggler é outro que também cai num mundo de vícios e crimes, ainda que permaneça a lenda do seu nome. Triste de doer.
4 - Boogie Nihgts, de Paul Thomas Anderson (1997) - Na crista da onda do cinema pornô, em plena e louca década de 70, Jack Horner, aclamado diretor do gênero "inventa" Dirk Diggler, um jovem e estreante ator que descobre que seu grande talento de 33 cm pode abrir as portas de um mundo feito com drogas, sexo e muita disco dance. Diggler passa a fazer parte de uma "família" que agrega atores, produtores, técnicos e toda a fauna que gira em torno da indústria pornográfica de filmes. Com essas pessoas, ele acaba aprendendo que a vida não é feita apenas de alegria à toda prova e encontra caras e bocas bem mais tristes do que as que se vê nos filmes de sexo explícito. O filme acompanha a "ascenção e queda" de personagens como Amber, a atriz que sofre porque não consegue a guarda do filho e se desdobra em cuidados maternais para com todos os colegas de trabalho; como a Rollergirl, sempre montada em seus patins e enfrentando o preconceito pela vida que leva; e até como o próprio diretor dos filmes e 'paizão' de toda a turma, que apesar de achar que faz arte através de seus filmes, só consegue enxergar mediocridade neles quando os avalia mais profundamente. Dirk Diggler é outro que também cai num mundo de vícios e crimes, ainda que permaneça a lenda do seu nome. Triste de doer.
5 - Felicidade, de Todd Solondz (1998) - Joy é a azarada filha caçula de uma família que só busca a pura e simples felicidade. Cada um ao seu modo, claro. Seus avós estão se separando após 40 anos de casamento e sua avó agora só pensa em arrumar um parceiro sexual. Sua irmã mais velha se acha muito feliz com a família que tem, mas seu marido é um psicanalista pedófilo que só pensa em conquistar o amiguinho afeminado de seu filho de 11 anos. A irmã do meio de Joy é uma escritora bem sucedida e ninfomaníaca que se acha infeliz por nunca ter sido estuprada, até que um maníaco sexual passa a aterrorizá-la. Tudo isso em meio ao eterno azar de Joy, que a despeito de seu nome de batismo, não consegue encontrar a alegria que tanto deseja. Apesar do azar e da clara "infelicidade", Joy se mantém perseverante e otimista, mesmo quando se torna voluntária numa escola para imigrantes em que os professores estão em greve e ao entrar para dar aulas é chamada de traidora e fura-greve. O que o filme mostra é que pessoas comuns são capazes de qualquer coisa na busca dessa tal felicidade, ainda que precisem tomar atitudes imorais e até criminosas. Um show de corações despedaçados!
6 - A.I. Inteligência Artificial, de Steven Spielberg (2001) - Calotas polares derretidas, recursos naturais escassos e a humanidade já em franca decadência. Assistir a tudo isso já deixa o espectador com uma deprê de dar dó. Quando somos apresentados a um futuro em que há robôs para tudo - trabalhos domésticos, trabalhos de escritório, para fazer companhia e até para fazer sexo! - descobrimos que o amor virou item de série na mais nova invenção dos humanos: David, um menino-robô que ama incondicionalmente. Ele é adotado por um casal que sofre pela doença terminal do filho - que foi congelado até que a cura fosse encontrada - e luta para ser amado por uma mãe deprimida e neurótica. Quando o filho verdadeiro volta e surgem as competições naturais pelo amor da mãe, David é abandonado numa floresta e começa aqui uma triste jornada para o menino, que não foi programado para esquecer o amor que sentia pela mãe. Suas únicas companhias são o ursinho Teddy e o robô-gigolô Joe, que tenta ajudá-lo a encontrar um lugar no mundo para David. "Eu só preciso fazer as mulheres felizes", explica Joe. Muito triste essa idéia de fazer do amor algo programável e o filme só caminha para mais tristeza, quando o Planeta Terra já se acabou, extra-terrestres tomam conta do que restou e fazem pesquisas para descobrir como foi a vida no planeta. O menino-robô congelado é descoberto e quando é reprogramado só tem lembranças de sua amada mãe. De partir o coração.
7 - Réquiem para um sonho, de Darren Aronofsky (2000) - Se o diretor decidisse batizar este filme de "sonhos despedaçados" teríamos um título brega, mas totalmente afinado com as histórias que vemos aqui. A dona de casa Sara quer ficar magra para caber em seu melhor vestido para participar de um programa de tevê - ela passa a usar anfetaminas para isso. Seu filho Harry quer ficar rico, mas não consegue trabalho e a namorada dele, Marion, sonha em ter uma grife. Enquanto tudo isso não acontece, Harry e seu amigo Tyrone têm uma idéia genial para ganhar dinheiro vendendo drogas, apesar de estarem sempre drogados. Quanto mais sonham, mais os personagens se afundam nas drogas, seja na daninha heroína, seja nas anfetaminas que podem emagrecer a dona de casa. Os personagens que se destroem em nome de seus sonhos mostram aos idealistas que nem tudo na vida é possível e que não basta apenas força de vontade para realizar grandes desejos. As cenas degradantes de Marion se prostituindo por drogas e Sara acossada pela feroz geladeira de sua casa são tristes símbolos do perigo que existe em acreditar tão piamente em sonhos.
8 - Menina de Ouro, de Clint Eastwood (2004) - Insistência deveria ser o nome de Maggie, personagem de Hilary Swank, que quer realmente ser uma campeã de boxe, apesar de ter chances quase nulas, segundo avaliação de Frankie (Eastwood), treinador de boxe que já teve seus dias de glória, mas faz questão de esquecê-los. Tanto insiste Maggi, até conseguir dobrar Frankie, que indo contra todos os princípios firmados por ele nos últimos anos, decide treinar a lutadora - e ela se torna campeã de boxe. Numa relação de amizade e confiança que só cresce ao longo da história, temos um final trágico, apesar de sensível e humano. A narração de Scrap (Morgan Freeman) torna tudo ainda mais triste, especialmente ao final do filme, em que Frankie vai embora de coração partido e ele - o narrador - filosofa: "Nesse momento, creio que ele já não sentisse nada." Cruel.
9 - Amores Brutos, de Alejandre González-Iñárritu (2000) - Com uma história que parece ser das mais complexas em todos os tempos, três vidas normais se entrelaçam de maneira trágica: o adolescente apaixonado que passou a ganhar muito dinheiro em brigas de cães; a modelo famosa e feliz que conseguiu tirar seu amante das mãos da esposa; e o agora matador de aluguel, ex-guerrilheiro, que vive um mundo de amarguras, se cruzam num terrível acidente de trânsito que altera a vida de cada um dos envolvidos da pior maneira possível. Num drama que envolve solidão, arrependimento, abandono, depressão e muito amor - especialmente pelos cachorros (daí o nome original do filme) - Amores Brutos mostra o quanto essa nossa vidinha é frágil, volátil e suscetível a desgraças de todos os tipos. Triste demais.
10 - Closer, de Mike Nichols (2004) - A stripper Alice se apaixona pelo jornalista-escritor Dan e vive numa doce e improvisada lua de mel até que seu amado se apaixona pela fotógrafa Anna, que prefere se casar com Larry, o médico - apesar de não hesitar em se tornar amante de Dan. Personagens egoístas, quase ególatras, e situações nada insólitas nos dão uma sensação de vazio e descrença no ser humano. O pior de todas as constatações, ao assistir ao filme, é que a vida tem sido assim mesmo, dessa maneira um tanto ensandecida e inconsqüente. A cena em que Dan abandona Alice, logo após um encontro sexual entre ele e Anna, é de estilhaçar o coração. O diálogo entre os personagens: "A última coisa que quero é magoar você..." - Dan, um tanto compenetrado. "Então por que está me magoando?" - Alice chorando. Crash total.
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No player - Filme triste, Chico César.
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3 comentários:
É de chorar mesmo! Mas acho que faltou uns dois filminhos aí... Babel e 21 gramas são os que lembro. hehe
caraca! tu viu felicidade? pensei que só eu mesmo tinha visto! essa mocinha joy é um barato mesmo. e a cena da punheta do phillipe seymour hoffman é ótima! esse cara devia ter ganhado o oscar desde esse filme!
Não dá pra assistir essa lista inteira. Antes de completar quatro filmes já dá pra sair contando os pulsos.
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